quinta-feira, 5 de abril de 2012

Uma sexta qualquer.


TÁ TUDO ERRADO!

Noite de sexta, pego um ônibus perto de casa para ir a casa de uma amiga no Rio Vermelho.
No caminho, por volta das 20:50 uma blitz pára o ônibus. Que eu me lembre todos os lugares estavam ocupados e umas 2 ou 3 pessoas de pé perto da frente. 
Policiais fortemente armados se aproximam do ônibus, dois entram pela frente, um pelo fundo e outro pela porta do meio. Eu estava sentada na cadeira do lado dessa porta. Inevitável não ficar no mínimo incomodada com aquelas armas perto.
O policial que entrou pela porta do meio fica bem próximo de mim. Do outro lado dois homens sentados. Um 'branco' e um 'negro'. Ele manda que os dois levantem. Pede pra que o branco levante a camisa e a revista já foi feita. Na hora do negro, passa a mão, levanta a camisa, abre a mochila. A situação me incomoda extremamente. Olho pra ele, ele (policial) me olha. Desvio o olhar. Ele continuar a revistar o negro. Não sei exatamente com qual propósito olho pro nome de guerra dele, ele me olha novamente. E eu abaixo a cabeça. Nem sei se ele realmente percebia que estava o olhando, mas ele virava a cabeça e já sentia medo. Também com essa postura e todas aquelas armas... Sou mulher e sou negra.
Sinto vontade de gritar "Porque com ele é assim? Porque vocês são assim? Que policia é essa?" Muitas coisas/respostas passam pela minha cabeça... Ele termina a revista, mais ninguém é revistado. Ele dá boa noite e saí do ônibus com os outros.
E o grito tá preso, começo discretamente (acreditava eu) a chorar. Choro por não aceitar ver aquilo, choro por me sentir tão impotente... Uma mulher ao meu lado percebe e diz, "ficou assustada, né?" Enxugo as lágrimas... ela continua algo do tipo: "é assim mesmo, minha filha. Mas eles tem de fazer essas coisas, tanto ladrão solto por aí..." 
Eu continuo chorando... e penso. "Ela não vê, ela não vê..."
E o homem segue o caminho de cabeça baixa...

Fonte: Facebook Concurso PM BA 2012 - em Greve da PM-SSA

Sei que muita gente vai ler isso e pensar: "Isso acontece todos os dias, e até coisa pior." Eu sei, eu sei!
Mas a questão é que eu nunca vou me acostumar com essas coisas, não devo, não quero...
Pensei em escrever no mesmo dia, e a sensação que me dava era de 'escrever pra que? o que vai adiantar?' Fiquei me perguntando, 'o que tô fazendo pra mudar isso? ' (...) 
Já faz alguns dias que isso aconteceu, e lembro o tempo todo. Acabei escrevendo. Talvez o grito ainda esteja preso por aqui...

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