#cotasSIM!
As cotas foi um dos assuntos mais comentados essa semana nas redes
sociais. Na correria da faculdade, trabalhos... da vida, acabei não lendo muito
o que estava sendo discutido, apesar do interesse. Mas depois, com mais tempo,
fui ver os absurdos -julgo eu- que as pessoas estavam falando. O papo meio que
esfriou, mas uma das coisas que aprendi é deixar claro o que penso, mostrar de
que lado a gente samba.
A ideia
do sistema de cotas é provisório, todo mundo sabe que nosso maior problema é a
educação básica. Mas o problema da educação não dá pra ser resolvido de
uma hora pra outra. E enquanto isso não se resolve ficamos como? Continuamos
sem negros no nível superior? O ideal é que as duas coisas aconteçam em concomitância.
O fato é
que ser negro nesse pais é muito difícil. A ideia das cotas é pra que as
oportunidades chegam a todos. Pelo amor de Deus, não tem nada a ver com falta
de capacidade! Ninguém tá dizendo que branco é mais inteligente que negro,
então, por favor, não me venha com esse discurso de 'cor não mede capacidade',
nem 'essas cotas é uma atitude racista'.
Todos os dias
vemos 'crianças negras' nas ruas, nos ônibus vendendo algo... Mas quando
aparece uma 'criança branca' o olhar é outro, as pessoas pensam sobre
a infância, que essa criança deveria estar na escola... E a outra não? É mais
chocante ver a branca? Já acostumou em ver a negra? Precisamos mudar esse
costume.
Todo mundo sabe que a abordagem da polícia com um negro é bem
diferente da com o branco. Eu mesmo já presenciei uma cena horrível. E
o que falar do extermínio da juventude negra?
Fiquei lendo várias coisas e vi muito comentários, além dos que já
citei, do tipo 'a constituição diz que todos somos iguais, essas cotas são
racistas'. Ah, tá... agora todos são iguais? Se tanta gente assim acha que
somos todos iguais onde está o racismo? É muito fácil falar de
igualdade, constituição, nessas horas, né?
Fiquei pensando o porquê das cotas incomodar tanto e veio logo a
mente um trecho de Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido.
"Mesmo quando a contradição é autenticamente resolvida por
uma nova situação estabelecida pela libertação dos trabalhadores, os antigos
opressores não se sentem libertados. Ao contrário, consideram-se, sinceramente,
como oprimidos. Condicionados
pela experiência de oprimir os outros, qualquer situação que não a antiga
configura-se-lhes como se fosse opressão."
Vamos
falar sério, né? Essa história de 'dar' vaga nas universidades a negros não é bem
vista pelos grupos dominantes. É uma ameaça. Eu já ouvi uma garota aprovada em
medicina no vestibular da UFBA dizendo 'ahh, eu passei pro segundo semestre por
causa dessa estória de cotas, com certeza tive nota maior que os cotistas e
ele entram primeiro que eu.' (...)
As cotas são mais que necessárias, é graças a elas que a cara
das Universidades tem mudado, graças a elas começa a existir diversidade nesses
espaços. Precisamos escancarar os portões da Universidade
para a entrada de todos, fazer com que o outro se enxergue nesse espaço, se
reconheça... As Universidades precisam de mais Ícaro's, Marcelo's, Ana's
Luísa's, Lusiane's, Patrícia's, Gabriela's, Alexandre's, Thiala's, Lais's,
Ivana's, Joseane's, Leandro's, Djean's, Vinicius's, Dj's, Geaze's, Igor's,
Ronaldo's, Cassia's, Adriele's, Hamilton's, Graziele's... (...) para que esses
não sejam vistos só como exemplo, referência, mais que isso, seja visto como o
caminho de entrada de todos, para que essa igualdade enfim seja real. Aí sim, "quando
os cirurgiões e juízes negros deixarem de ser confundidos com
pacientes e réus, não precisaremos mais de cotas...”.
Um bom
texto que fala sobre isso:
Nenhum comentário:
Postar um comentário